quarta-feira, 7 de novembro de 2012

DOIS COMÍCIOS DE ULYSSES - Por: Luiz Henrique da Silveira - Senador da República

Com as disputas municipais que passou me fez lembrar de dois comícios do MDB, na campanha de 1976, para Prefeitos e Vereadores. As duas praças estavam apinhadas de gente,  em Itajaí e em Curitibanos. Todos estavam lá para aplaudirem seus candidatos e para ver de perto aquele que, anos mais tarde, transformou-se no Senhor Diretas-já.
Era candidato a Prefeito de Itajaí o hoje Presidente da Federação Catarinense de Futebol, meu colega de turma na Faculdade de Direito, Delfim de Pádua Peixoto Filho. Deputado Estadual mais jovem e mais votado do Estado, Delfim estava no auge de sua popularidade, e ia vencer as eleições.
O Comício, realizado na Vila Operária, de fronte ao Clube da Vila era um mar de gente. No mesmo horártio do comício de Itajaí,  lideranças adversárias promoveram um jogo entre  o Marcilio Dias e o  Joinville (fundado naquele ano como resultado da fusão de Caxias e Améria) , que se  sagrou campeão do Estado. Era um jogo de portões abertos, mais o sorteio de um automóvel Volkswagen, valioso na época, que o povo apelidara de “fuscão”.
Não adintou, mesmo com futebol e sorteio de automóvel, o povo deixou a Vila Operária apinhada. Na hora de falar, Ulysses Guimarães, com seu bom humor e sua invejável capacidade de comunicação, cunhou a frase: “Eles têm os jogadores, que são pagos para jogar;  têm os juízes, que são pagos para apitar; têm os mesários, que são pagos para marcar as súmulas; mas nós temos o povo na praça!”
Foi um delírio. Se não fosse o futebol de graça, o sorteio do carro, e  um dilúvio que, três dias antes da eleição, destelhou milhares de casas humildes, Delfim teria ganho a eleição, que, assim mesmo,  perdeu por apenas uns 300 votos. É claro, contando com a força e o carisma de Ulysses.
Outro comício memorável do MDB velho de guerra foi em Curitibanos. Não era um mar. Era um oceano de gente! No ápice da festa pública, o locutor, depois de fazer uma série de rodeios elogiosos, bradou com voz forte de radialista: -- Vai falar o político mais importante desse País, o homem que enfrenta a ditadura e é a esperança da volta da democracia. Com a palavra, o Presidente do MDB, o Deputado Ulysses Guimaerães!
Naquele instante apagou a luz da praça, o povo ficou às escuras.  Mas Ulysses não esperou. Com  a voz forte e grave que Deus lhe dera, começou a falar:
“O poeta amazonense Thiago de Mello diz que abençoa a escuridão. Por que, depois de toda escuridão da noite, vem o alvorecer de um novo dia. Pois, eu amaldiçoo esta escuridão, porque não é  filha das mãos de Deus.  É filha da arrogância, da prepotência dos homens que governam este País sem mandato do povo. O povo haverá de substituir as mãos que apagaram a luz, as mãos que decretaram essa escuridão intolerável e deplorável, pela luz da democracia, que haverá de cintilar das urnas livres,  da vontade  da nossa gente.”
Aquele discurso, feito diante de um silêncio sepulcral, terminou com um alarido sem igual. E o povo, gritando: Ulysses, Ulysses!
Ulysses, que faria no próximo dia 6 de Outubro, 96 anos de idade, foi o principal protagonista da  dura luta pela  reconstrução da democracia brasileira!

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